Era uma vez uma história de um galo que acreditava que fazia o sol nascer. Ele acordava bem cedo, subia no telhado e cantava estufando o peito, olhando fixo para o nascente. Daí a pouco, a bola avermelhada começava a aparecer no horizonte. Fazia também todos os animais do terreiro acreditar que isso eraverdade. A bicharada ficava atenta a cada manhã e, só se tranquilizava após o canto do galo. O galo tinha um tratamento especial no quintal, pois era considerado como um Deus poderoso. Até ameaçava os outros bichos com o fim do mundo, caso ele deixasse de cantar. Certo dia, o galo perdeu a hora e dormiu mais do que a cama, ou melhor, que o poleiro e não cantou para o sol nascer. A grande Surpresa – o Sol nasceu assim mesmo, foi um enorme reboliço, pois os bichos acordaram e gritavam ao mesmo tempo: “O Sol nasceu sem o Galo cantar! o Sol nasceu sem o Galo cantar!” A história daquele terreiro nunca mais foi a mesma.
Fonte: (Estórias que ouço, estórias que conto, Durval Ângelo).
Retrato da política atual em muitas de nossas cidades. Tem gente que ao invés de galo, gostaria de fala r de outros bichos. Pois é. Existem pessoas em nossas comunidades, mesmo sem mandato eletivo, que se acham o galo, que são eles quem fazem o sol nascer todos os dias e que elas mesmas é que cantam essas melodias todos os dias náqueles terreiros.
O autoritarismo enraizado na cultura brasileira, semente plantada na alma de uma sociedade baseada no patriarcalismo, na divisão de classes e na dominação das relações sociais. Tem raízes profundas no processo de exclusão que produziu e continua produzindo misérias e pobrezas, descuido e mortes para a maioria da população.
Tem gente cantando de galo, acorrentando os portões e bloqueando a energia elétrica da iluminação do campo de futebol do Alfredão. Isso, só porque alguns líderes comunitários se reuniram e organizaram um torneio envolvendo os moradores dos bairros da cidade. Atividades que contribui para a diversão de crianças, jovens e adultos, desviando-os do vício das drogas, bebidas e outros males.
Também há galos que não querem cantar pra ninguém, em se tratando de solucionar os buracos das ruas, avenidas e estradas. Querem deixar o terreiro sujo e esburacado. Tão deixando o matagal tomar conta do Parque dos Namorados e a ponte que dá acesso à ilha do parque já foi sucateada.
Só que o terreiro vem agindo e se conscientizando de que o sol nasce para todos, independente do canto dos galos. Essa geração vem mudando os rumos da história e a Era da Informação tem contribuído demais. Nas comunidades vem surgindo protagonistas que vão mudar de vez o cenário dessa fazenda chamada Brasil.
Muitos movimentos têm surgido e vários cursos de formação têm acontecido. Hoje o povo já sabe qual é o seu espaço.
Em outros terreiros, estamos vendo surgir líderes, coordenadores e entusiastas que não querem cantar de galo. São trabalhadores urbanos e rurais, do cabo da enxada e da foice cortante, professores, donas de casas, pequenos proprietários. Será uma nova fazenda - Um novo terreiro - Novas relações de companheirismo e fraternidade entre a bicharada.
Ainda há muito que caminharmos na busca de um poder-fraterno, de um poder-serviço, mas essas pessoas firmes são sinais de que estamos no caminho certo, desenterrando a tal cabeça de jegue que tanto dizem existir nesse Brejo.
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