sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Céu e o Inferno

Naquele tempo, o discípulo perguntou ao seu Mestre:

- Mestre, qual é a diferença entre o céu e o inferno?

E o Mestre lhe respondeu:

- Ela é muito pequena, e, contudo com grandes conseqüências.

Vi um grande monte de arroz, cozido e preparado como alimento, ao redor dele muitos homens, quase a morrer. Não podiam aproximar-se do monte de arroz. Mas possuíam longos palitos de 2 a 3 metros de comprimento. Apanhavam o arroz, mas não conseguiam levá-lo a própria boca, porque, os palitos em suas mãos eram muito longos. Assim, famintos e moribundos, embora juntos, solitários permaneciam, curtindo uma fome eterna, diante de uma fartura inesgotável. - Isso era o Inferno.

Vi outro grande monte de arroz cozido e preparado como alimento. Ao redor dele homens famintos, mas cheios de vitalidade. Não podiam se aproximar do monte de arroz. Possuíam palitos longos de 2 a 3 metros de comprimento. Apanhavam o arroz, mas não conseguiam levá-lo a própria boca, porque os palitos em suas mãos eram muito longos. Mas com seus palitos, em vez de levá-los a própria boca, serviam uns aos outros, e assim matavam sua fome insaciável. Numa grande comunhão fraterna. Juntos e solidários. Gozando a excelência dos homens e das coisas. - Isso era o Céu.

Autor Desconhecido
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A idéia de fraternidade estabelece que o homem, como animal político, fez uma escolha consciente pela vida em sociedade e para tal estabelece com seus semelhantes uma relação de igualdade, visto que em essência não há nada que hierarquicamente os diferencie: são como irmãos (fraternos). Este conceito é a peça-chave para a plena configuração da cidadania entre os homens, pois, por princípio, todos os homens são iguais. De uma certa forma, a fraternidade não é independente da liberdade e da igualdade, pois para que cada uma efetivamente se manifeste é preciso que as demais sejam válidas.

Mas o que se vê é pessoas com o “olho maior que a testa” e com uma “fome maior que a própria digestão”. Tem mão grande levando um lucro que não fez por merecer. Diante dos nossos olhos vem ocorrendo o mesmo que ocorre lá no inferno. Também há um grande "monte de arroz" e seres apenas o vigiando pois não conseguem comê-los e muito menos pensam nos semelhantes.


domingo, 8 de maio de 2011

GOSTAR DO FILHO

Gostar do filho é saber-se ridículo no meio da mais completa grandeza. Ë ser piegas tanto quanto profundo e conviver com o que se soube economizar do emprego com o patrão vida. E descobrir-se mudando a cada dia, um reviver aprendido.

Gostar do filho é perceber-se nada ante seu olhar implacável e sentir-se tudo ante sua dependência. E babar retratinhos, depois de tê-los desdenhado nos outros. É voltar a parques e circos sem precisar de desculpas, e fingindo que reclama do "trabalhão que eles dão". Gostar do filho é reencontrar medos antigos que ficaram sepultados na personalidade adulta. E aprender a calar pois chegará o momento de dizer (nem sempre é na mesma hora). Gostar do filho é sobretudo saber "não saber". Ou testar o que sabe, com modéstia e humildade.

E incorporar o que não sabe sem inveja. É usar o que sabe com prudência. É reformular a cada dia. É confirmar a cada instante. É tanto conhecer o que muda, como o que não muda, e saber distinguir os dois na hora certa.

Gostar do filho é sentir seu crescimento. Acompanhar seios, barbas, hormônios, fala, baba, cheiros, pêlos, palavras, letras, cadernos calças, espasmos, choros, medos, surfe, pelada, boneca, sexo, piriri, espanto, esbarro, radiografia, namorada, astronomia, mesada, mulher, homem, tudo acompanhar no mais altruísta dos egoísmos.

Gostar do filho é permitir-lhe o vôo, no máximo ensinando-o a distinguir ninho de arapuca. É amar a liberdade, mas ter medo da dele, permitindo-a. Gostar do filho é desaprender a dormir para poder dormir em paz. É aprender a renunciar e a agüentar. É redescobrir agasalhos, natais, escadas rolantes, selos, caixas de fósforo, botão, prancha ou vestidinho. É conviver, roçar a pele, ficar todo mole quando ganha um .abraço espontâneo depois de ter rejeitado tantos outros lá fora. E ser cego e clarividente. Profeta e embotado. Sábio e burraldo. Valente e covarde. Bobão e frio. Inseguro e protetor.

Guru e guri. E mudar a cada dia. Fundo, e contemplar os próprios limites com mais tolerância porque alguém salvará a espécie. É virar lobo, tigre, jumento ou colibri, palhaço, mago ou Kung-Fu, Gordo e Magro ou Flash Gordon.

Mas gostar do filho é sobretudo saber esperar. Não ter a pressa de aceitações, entendimentos e devoluções à vista. E saber conquistar pelo menos uma lembrança compreensiva, não importa quando venha, no fim dos tempos ou depois de amanhã.

Saber esperar as quatro estações cuidando as podas, regas, adubos, como quem cumpre um ritual, se possível cantando as canções da colheita, as que trazem a messe e a esperança do fruto. Que virá. Carregado de sementes.

Artur da Távola